"A leitura faz ao homem completo; a conversa, ágil, e o escrever, preciso."
(Francis Bacon)
Concordo plenamente, por isso resolvi compartilhar aqui minhas leituras e algumas escritas baseadas naquilo que costumamente leio.
Sinta-se à vontade!

5 de fev. de 2018

Evidências de um cristão verdadeiro

Evidências de um cristão verdadeiro – 1 João 2.3-11,23
Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo, suas inclinações para o mal devido à sua natureza pecaminosa o leva a praticar as mesmas coisas apenas com uma roupagem diferente. Por isso, as heresias que atacaram a igreja no passado mudaram apenas a embalagem, a essência continua a mesma. Dentre tantos perigos que atacam a igreja, destacamos três: o liberalismo (que nega a inerrância e a suficiência das Escrituras), o misticismo sincrético (que acrescenta às Escrituras rituais e práticas estranhas) e o pragmatismo (que rejeita a noção dos absolutos certo e errado, bem e mal, verdade e erro).
Nesse cenário, pessoas sinceras assediadas por tantas heresias, podem ser bombardeadas por dúvidas quanto à sua fé. A primeira carta de João traz uma mensagem de exortação e também de conforto para esses últimos dias. Nela encontramos resposta para uma inquietante pergunta: “como conhecer um cristão verdadeiro? ” “Como saber se sou um cristão verdadeiro? ” “Como saber se sou verdadeiramente salvo? ” Quais os critérios para se fazer essa avaliação?
Nessa carta o apóstolo João apresenta três provas básicas para se fazer essa avaliação e distinguirmos um cristão verdadeiro:


1.  A fé – a prova doutrinária “Cremos que Jesus é o Filho de Deus? ” (2.23)
2.  A obediência – a prova moral “Praticamos a justiça e guardamos os seus mandamentos?” (2.6)
3.  O amor – a prova social “Amamos nosso próximo? ” (2.10)
Podemos reconhecer um cristão verdadeiro verificando sua vida com o modelo perfeito que é Jesus. Isso não significa perfeição absoluta aqui neste mundo, mas uma luta, de acordo com a capacidade da fraqueza humana, para construir uma vida de obediência a Deus. A perfeição obtida em Cristo é operada gradualmente em nós (2 Co 7.1)
Essas três provas fornecem ao crente uma segurança (“sabemos”) bíblica e espiritual da vida eterna. Vamos, pois, examiná-las.
1.  A fé -  a prova doutrinária – (2.23)
A heresia do pragmatismo está alastrada em todas as camadas da nossa sociedade como uma doença contagiosa. Rejeitando a noção dos absolutos certo e errado, verdade e erro, essa heresia tem feito com que muitos líderes afirmem que todas as religiões levam a Deus, desde que você seja sincero. Mas a sinceridade não é um ingrediente mágico que transforma o falso em verdadeiro, se uma enfermeira sincera ministrar o remédio errado ao paciente ele irá passar mal ou morrer. Ou ainda quando um pai acredita sinceramente que está atirando num ladrão que está invadindo sua casa na madrugada, quando na verdade é seu filho sonâmbulo.... Fé sincera numa mentira sempre traz consequências desastrosas.
Então precisamos responder a um questionamento muito importante: Quem é Jesus Cristo? O Evangelista Billy Gram ao ser questionado sobre isso respondeu: “Jesus é mais que apenas um líder religioso ou filosófico. A Bíblia afirma isso e também nos lembra que Ele era Deus em forma humana”, escreveu Graham. “Em outras palavras, quando Jesus nasceu, o próprio Deus estava usando a carne humana e se tornou um homem. Pense nisso: quando Jesus andou sobre a Terra, o próprio Deus estava vivendo entre nós. Precisamos olhar com uma mente e o coração abertos para Jesus Cristo e ver como Ele é citado nos Evangelhos do Novo Testamento. Quando você fizer isso, você não só vai descobrir quem Ele é, mas que Ele o ama e quer fazer morada dentro de você pelo Seu Espírito Santo. Não deixe que nada te mantenha longe d’Ele”.
No versículo 18 João afirma que já estamos vivendo a última hora (tipo de tempo, não duração). A era messiânica foi inaugurada em Cristo. O tempo do fim, a última hora, é o tempo que vai da primeira à segunda vinda de Cristo. João continua escrevendo afirmando que aqueles que se opõe a Cristo e os que procuram ocupar o lugar que é de Cristo, ou seja, o anticristo, já está operando no mundo e o mais perigoso: saem de dentro da própria igreja. E, muitos, levado pelo engano, tem flertado com o ecumenismo, sob o argumento de serem contra a intolerância, afirmam que todos os caminhos levam a Deus.
Mas a Bíblia afirma que o pecador é salvo pela fé (Efésios 2.8,9) no sacrifício de Jesus Cristo o filho de Deus, que veio em carne (nascido de mulher, esvaziado de sua glória se fez como o homem), viveu uma vida sem pecados, morreu morte de cruz (sacrifício necessário para a expiação dos pecados do homem diante de Deus), ressuscitou pelo poder do Espírito Santo de Deus, subiu aos céus, enviou o Espírito Santo e em breve há de voltar com poder e glória. O próprio Jesus afirmou “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Jo 14.6
O relacionamento do homem com Deus não pode acontecer à parte de Cristo, ele mesmo o afirmou. Somente Jesus revela o Pai aos homens.
Não podemos viver conformados com o analfabetismo bíblico, pois heresias novas e antigas encontram acolhida nas igrejas atuais, elas não querem discutir doutrinas, elas querem apenas relacionamentos. Onde a teologia é desprezada, a vida cristã entra em colapso.
Negar a Jesus é perder todo o conhecimento de Deus. E todas as vezes que o homem despreza a doutrina bíblica e aceita heresias que negam a salvação exclusiva por meio de Cristo, ele está negando a Cristo.
Para um cristão salvo a maior defesa é recordar o que já sabemos, não precisamos de um novo conhecimento, precisamos pôr em prática o que já conhecemos. 
2.  A obediência – a prova moral [i]– (vs 3-6)
“E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. ”
A obediência é a evidência do verdadeiro conhecimento de Deus.
William Barclay destaca as três formas de conhecimento correntes no primeiro século:
· Os gregos pensavam que podiam conhecer a Deus simplesmente por intermédio da razão, para eles o caminho para Deus era o intelecto. Buscavam satisfação intelectual em vez de ação moral.
· Mais tarde os gregos falaram no conhecimento de Deus por intermédio da emoção. A proposta não era conhecer Deus, mas sentir Deus. Não buscam a verdade, mas arrebatamento emocionais.
· A visão judeu-cristã é que o conhecimento de Deus só é possível mediante a sua própria revelação. O conhecimento de Deus não é produto da especulação humana nem de exóticas experiências emocionais, mas da revelação do próprio Deus ao homem por intermédio de Jesus Cristo. (Mt 16.17)
A verdade ensinada pelo Apóstolo João é que o verdadeiro conhecimento de Deus nos vem pela revelação e é evidenciado pela obediência. Conhecer não significa nunca um conhecimento intelectual teórico, mas um conhecimento experimental do coração, ou seja, nenhum conhecimento é verdadeiro se não for transformador. Nenhuma experiência religiosa é válida se não tiver consequências morais. (Tt 1.16). Não conhecemos a Deus pelo tanto de informações que temos na mente, mas pelo grau de obediência que manifestamos na vida. Se sua vida contradiz suas palavras, o seu conhecimento de Deus é falso.
Mais uma vez precisamos ter cuidado, a obediência pode ter três motivações: obrigação, necessidade ou querer. O escravo obedece porque é obrigado, ou será castigado; o empregado porque precisa do salário ao final do mês; mas o cristão verdadeiro deve obedecer ao Pai celestial porque quer – porque tem um relacionamento com Deus (Jo 14.15).
A inconsistência moral é a negação do conhecimento de Deus (v.4). As palavras de um homem devem ser provadas por suas obras (Mt 7.22,23)
A obediência à Palavra é a prova que Deus está em nós e nós nele (2.5) – a prova do amor é a lealdade. Jo 14.15, 21, 23
A imitação de Cristo é a prova de que pertencemos a ele (2.6) – Não basta conhecer seus mandamentos e sua Palavra, precisamos também imitá-lo. Andar como ele andou. E como ele andou? Em humildade, ele se esvaziou a si mesmo; em total submissão ao Pai, entregou-se a si mesmo; fazendo o bem e curando os oprimidos pelo diabo; Ele andou em amor e perdoou até mesmo os seus algozes.
William Barclay afirma que: “O cristianismo é a religião que oferece o maior privilégio e também a maior obrigação. ”
3.  O amor -  a prova social (vs 7-11)
Movida por um discurso contra a intolerância a heresia de que “todas as formas de amor valem a pena” tem enganado a muitos. A Bíblia é clara quanto a essa questão, há formas de amar que são veementemente condenadas e conduz à perdição: o amor ao mundo e aos seus valores e discursos vazios de Deus (1 Jo 2.15), o amor ao dinheiro que é a raiz de todos os males (1 Tm 6.10), amar mais a pai e mãe do que a Deus (Mt 10.37), o amor aos prazeres e ao vinho (Pv 21.17), etc. Não nos conformemos com o mundo, o amor, por ser a expressão viva de Deus em nós, tem sido distorcido constantemente por aqueles que estão a serviço das trevas.
Em primeiro lugar o amor é um mandamento velho e novo ao mesmo tempo (Vs 7,8). O mandamento de amar ao próximo é antigo. Ele é da lei (Lv 19.18), faz parte do Antigo Testamento. Entretanto, é um novo mandamento, porque Cristo o revestiu de um significado mais rico e mais amplo (Jo 13. 34, 35).
Ao ler dos versos 7 e 8 podemos pensar que João entra em contradição, mas na língua grega há duas palavras para “novo”. A palavra neós é novo em termos de tempo e kainós é novo em termos de qualidade. A palavra usada por João é kainós. O mandamento de amar uns aos outros não é novo em termos de tempo, mas em qualidade.
O mandamento é novo em profundidade - nos desafia a amar como Cristo amou, não com sentimentalismo, mas com ações. Cristo deu sua vida por nós e devemos dar a nossa vida pelos irmãos (3.16). O amor é sentimento e movimento, sentimento de compaixão e movimento em direção ao necessitado. O amor e a fé têm em comum o fato de que ambos precisam de obras para atestar sua autenticidade.
O mandamento é novo em extensão -  o próximo que devemos amar é qualquer pessoa que precise da nossa compaixão. Compaixão é abrir o coração antes de abrir as mãos. É abrir o bolso e não somente a boca. Devemos amar até os nossos inimigos. O nosso amor deve incluir a todos sem acepção e abranger a todos sem exceção. Incluindo todos como objeto do nosso amor enquanto pensamos em cada pessoa individualmente. Esse é o modelo de Cristo.
O mandamento é novo em experiência – andar em amor e andar na luz são a mesma coisa. Quando conhecemos a Deus tornamo-nos filhos da luz. Jesus é o Sol da Justiça. A vida cristã é viver em Cristo, é permanecer nele. Por isso, a vida do justo “é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” Pv 4.18 Na luz vemos as pessoas pelo que são em sua necessidade. Ao se dissiparem as trevas, a realidade do indivíduo fica exposta, e novamente somos desafiados a praticar o amor. Para João, luz é igual a amor, e trevas equivalem a ódio. A aurora já raiou em Jesus Cristo, e as trevas já vão se dissipando.
Em segundo lugar o ódio não sobrevive na luz (v. 9) - Se no coração há ódio em lugar de amor, é trevas que habita esse coração. O ódio ao irmão indica a falta do verdadeiro conhecimento de Deus, indica falta de conversão, aponta para o estado de perdição daquele que odeia. Mas o que é esse ódio? É a falta de cuidado, provisão e ajuda aos irmãos verdadeiramente necessitados (aqueles que amam mais ao dinheiro e aos prazeres não olham para as necessidades dos irmãos). É a indiferença aos relacionamentos. Não podemos estar em comunhão com Deus e ao mesmo tempo com as relações quebradas com nossos irmãos. Não podemos cantar hinos que falam do amor de Deus enquanto guardamos mágoas no coração. No amor não existe penumbra ou meio termo. Examinemos nosso coração e não nos enganemos.
Em terceiro lugar, o amor não produz tropeço para si nem para os outros (v.10) – um crente que guarda ódio no coração encontra em si mesmo tropeço para crescer espiritualmente e serve de escândalo na comunidade em que vive. Em vez de benção, transforma-se em maldição. O amor é característica da luz e o ódio das trevas, portanto uma pessoa revela a autenticidade de seu relacionamento com Deus através de seus relacionamentos com os outros. Observe esses dois exemplos: o exemplo de Caim, era um religioso, mas quis adorar a Deus sem observar os preceitos divinos, sem examinar o próprio coração que estava cheio de inveja e ódio do irmão Abel. Caim rejeitou a exortação de Deus, rejeitou a luz e mergulhou nas trevas da inveja e do ódio e rua rebeldia o levou a assassinar o seu irmão.
Contrastando com o exemplo de Caim vemos o exemplo de Judá, um dos doze filhos de Jacó. Na narrativa de Gênesis 44 e 45 José aplica um teste em seus irmãos e dá ordens para que a sua taça de prata fosse colocada na bagagem de Benjamim. Ao serem confrontados com o possível roubo e a decisão de que Benjamim deveria ficar no Egito como escravo, Judá por amor ao seu pai já idoso e conhecendo o grande amor de seu pai por seu irmão caçula, se oferece para ser escravo no lugar de Benjamim (Gn 44.33, 34). Essa atitude de Judá, de se oferecer em lugar de seu irmão, transformou um momento de acusação e tristeza num momento de reencontro e de perdão. Judá ali foi um tipo de Cristo, que por amor ao Pai se entregou por nós, estando nós escravizados pelo pecado, conquistou para nós o perdão e o relacionamento com o nosso Pai celestial.
O amor pelos irmãos é a evidência de que fomos alcançados pelo amor de Deus. Amar os irmãos é o remédio para males como incerteza, angústia, insegurança, bem como falta de ousadia e coragem diante de Deus na oração. Quando amamos em ação e não somente por palavras, esse amor produz em nós uma consciência tranquila diante de Deus e temos da Palavra a garantia de termos nossas orações respondidas e de que permaneceremos em Deus.

Concluindo: O apóstolo João em toda sua carta volta sempre a esses três assuntos: o amor, a fé e a obediência. E biblicamente são inseparáveis, pois:
Fé e amor sem obediência é sentimentalismo barato, fé romântica, e é inútil, pois, a fé sem obras é morta (Tiago 2.26), e amor sem atitudes não traz nenhum benefício.
Amor e obediência sem fé produz atos motivados pela justiça própria, buscando alcançar a salvação por méritos próprios e desagrada profundamente o coração de Deus (Sem fé é impossível agradar a Deus – Hb 11.6)
Obediência e fé sem amor é mentirosa pois a Bíblia afirma que Deus é amor. (“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? 1 João 4:20). E de nada vale “Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. 1 o 13.3” Além disso é esse tipo de vida que produz o fanatismo e o extremismo que mata em nome de Deus.
Assim reconheceremos se somos cristãos verdadeiros aplicando a nós mesmos o teste doutrinário (em que tenho fé?), o teste moral (a quem obedeço?) e o teste social (a quem amo?).
Que possamos ter uma fé inabalável no nosso Senhor Jesus Cristo, amá-lo acima de todas as coisas, pois é esse amor que nos capacita a amar ao nosso próximo em ações e assim obedecer aos seus mandamentos.

[i] Quanto à etimologia da palavra "moral", esta se originou a partir do intento dos romanos traduzirem a palavra grega êthica.  êthica possuía, para os gregos, dois sentidos complementares: o primeiro derivava de êthos e significava, numa palavra, a interioridade do ato humano, ou seja, aquilo que gera uma ação genuinamente humana e que brota a partir de dentro do sujeito moral, ou seja, êthos remete-nos para o âmago do agir, para a intenção. Por outro lado, êthica significava também éthos, remetendo-nos para a questão dos hábitos, costumes, usos e regras, o que se materializa na assimilação social dos valores.


Bibliografia: Comentário Expositivo de 1 João - Hernandes Dias Lopes

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