Evidências de um cristão verdadeiro – 1
João 2.3-11,23
Os tempos mudaram, mas o homem
é o mesmo, suas inclinações para o mal devido à sua natureza pecaminosa o leva
a praticar as mesmas coisas apenas com uma roupagem diferente. Por isso, as heresias que atacaram a igreja no
passado mudaram apenas a embalagem, a essência continua a mesma. Dentre tantos
perigos que atacam a igreja, destacamos três: o liberalismo (que nega a inerrância e a suficiência das Escrituras),
o misticismo sincrético (que acrescenta
às Escrituras rituais e práticas estranhas) e o pragmatismo (que rejeita a noção dos absolutos certo e errado, bem
e mal, verdade e erro).
Nesse cenário, pessoas
sinceras assediadas por tantas heresias, podem ser bombardeadas por dúvidas
quanto à sua fé. A primeira carta de João traz uma mensagem de exortação e
também de conforto para esses últimos dias. Nela encontramos resposta para uma
inquietante pergunta: “como conhecer um cristão verdadeiro? ” “Como saber se
sou um cristão verdadeiro? ” “Como saber se sou verdadeiramente salvo? ” Quais
os critérios para se fazer essa avaliação?
Nessa carta o apóstolo João apresenta três
provas básicas para se fazer essa avaliação e distinguirmos um cristão
verdadeiro:
1. A fé – a prova doutrinária
“Cremos que Jesus é o Filho de Deus? ” (2.23)
2. A obediência – a
prova moral “Praticamos a justiça e guardamos os seus mandamentos?” (2.6)
3. O amor – a prova social
“Amamos nosso próximo? ” (2.10)
Podemos reconhecer um cristão
verdadeiro verificando sua vida com o modelo perfeito que é Jesus. Isso não
significa perfeição absoluta aqui neste mundo, mas uma luta, de acordo com a
capacidade da fraqueza humana, para construir uma vida de obediência a Deus. A
perfeição obtida em Cristo é operada gradualmente em nós (2 Co 7.1)
Essas três provas fornecem ao
crente uma segurança (“sabemos”) bíblica e espiritual da vida eterna. Vamos,
pois, examiná-las.
1. A fé -
a prova doutrinária – (2.23)
A
heresia do pragmatismo está alastrada em todas as camadas da nossa sociedade
como uma doença contagiosa. Rejeitando a noção dos absolutos certo e errado,
verdade e erro, essa heresia tem feito com que muitos líderes afirmem que todas
as religiões levam a Deus, desde que você seja sincero. Mas a sinceridade não é
um ingrediente mágico que transforma o falso em verdadeiro, se uma enfermeira
sincera ministrar o remédio errado ao paciente ele irá passar mal ou morrer. Ou
ainda quando um pai acredita sinceramente que está atirando num ladrão que está
invadindo sua casa na madrugada, quando na verdade é seu filho sonâmbulo.... Fé sincera numa mentira sempre traz
consequências desastrosas.
Então precisamos responder a
um questionamento muito importante: Quem
é Jesus Cristo? O Evangelista Billy Gram ao ser questionado sobre isso
respondeu: “Jesus é mais que apenas um líder religioso ou filosófico. A Bíblia
afirma isso e também nos lembra que Ele era Deus em forma humana”, escreveu
Graham. “Em outras palavras, quando Jesus nasceu, o próprio Deus estava usando
a carne humana e se tornou um homem. Pense nisso: quando Jesus andou sobre a
Terra, o próprio Deus estava vivendo entre nós. Precisamos olhar com uma mente
e o coração abertos para Jesus Cristo e ver como Ele é citado nos Evangelhos do
Novo Testamento. Quando você fizer isso, você não só vai descobrir quem Ele é,
mas que Ele o ama e quer fazer morada dentro de você pelo Seu Espírito Santo.
Não deixe que nada te mantenha longe d’Ele”.
No
versículo 18 João afirma que já estamos vivendo a última hora (tipo de tempo, não duração). A
era messiânica foi inaugurada em Cristo. O tempo do fim, a última hora, é o
tempo que vai da primeira à segunda vinda de Cristo. João continua escrevendo
afirmando que aqueles que se opõe a Cristo e os que procuram ocupar o lugar que
é de Cristo, ou seja, o anticristo, já está operando no mundo e o mais
perigoso: saem de dentro da própria igreja. E, muitos, levado pelo engano, tem
flertado com o ecumenismo, sob o argumento de serem contra a intolerância,
afirmam que todos os caminhos levam a Deus.
Mas a
Bíblia afirma que o pecador é salvo pela fé (Efésios 2.8,9) no sacrifício de Jesus Cristo o filho de Deus, que
veio em carne (nascido de mulher, esvaziado de sua glória se fez como o homem),
viveu uma vida sem pecados, morreu morte de cruz (sacrifício necessário para a
expiação dos pecados do homem diante de Deus), ressuscitou pelo poder do
Espírito Santo de Deus, subiu aos céus, enviou o Espírito Santo e em breve há
de voltar com poder e glória. O próprio Jesus afirmou “Disse-lhe Jesus: Eu sou
o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
Jo 14.6”
O
relacionamento do homem com Deus não pode acontecer à parte de Cristo, ele
mesmo o afirmou. Somente Jesus revela o Pai aos homens.
Não
podemos viver conformados com o analfabetismo bíblico, pois heresias novas e
antigas encontram acolhida nas igrejas atuais, elas não querem discutir
doutrinas, elas querem apenas relacionamentos. Onde a teologia é desprezada, a
vida cristã entra em colapso.
Negar
a Jesus é perder todo o conhecimento de Deus. E todas as vezes que o homem
despreza a doutrina bíblica e aceita heresias que negam a salvação exclusiva
por meio de Cristo, ele está negando a Cristo.
Para
um cristão salvo a maior defesa é recordar o que já sabemos, não precisamos
de um novo conhecimento, precisamos pôr em prática o que já conhecemos.
2. A obediência – a prova moral [i]–
(vs 3-6)
“E
nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. ”
A
obediência é a evidência do verdadeiro conhecimento de Deus.
William
Barclay destaca as três formas de conhecimento correntes no primeiro século:
·
Os gregos pensavam que podiam conhecer a Deus
simplesmente por intermédio da razão, para eles o caminho para Deus era o
intelecto. Buscavam satisfação intelectual em vez de ação moral.
·
Mais tarde os gregos falaram no conhecimento de
Deus por intermédio da emoção. A proposta não era conhecer Deus, mas sentir
Deus. Não buscam a verdade, mas arrebatamento emocionais.
·
A visão judeu-cristã é que o conhecimento de
Deus só é possível mediante a sua própria revelação. O conhecimento de Deus não
é produto da especulação humana nem de exóticas experiências emocionais, mas da
revelação do próprio Deus ao homem por intermédio de Jesus Cristo. (Mt 16.17)
A
verdade ensinada pelo Apóstolo João é que o verdadeiro conhecimento de Deus nos
vem pela revelação e é evidenciado pela obediência. Conhecer não significa nunca um conhecimento intelectual teórico,
mas um conhecimento experimental do coração, ou seja, nenhum conhecimento é
verdadeiro se não for transformador.
Nenhuma experiência religiosa é válida se não tiver consequências morais. (Tt
1.16). Não conhecemos a Deus pelo tanto de informações que temos na mente, mas
pelo grau de obediência que manifestamos na vida. Se sua vida contradiz suas
palavras, o seu conhecimento de Deus é falso.
Mais
uma vez precisamos ter cuidado, a obediência pode ter três motivações:
obrigação, necessidade ou querer. O escravo obedece porque é obrigado, ou será
castigado; o empregado porque precisa do salário ao final do mês; mas o cristão
verdadeiro deve obedecer ao Pai celestial porque quer – porque tem um relacionamento
com Deus (Jo 14.15).
A
inconsistência moral é a negação do conhecimento de Deus
(v.4). As palavras de um homem devem ser provadas por suas obras (Mt 7.22,23)
A obediência à Palavra é a prova que Deus
está em nós e nós nele (2.5) – a prova do amor é a lealdade. Jo
14.15, 21, 23
A imitação de Cristo é a prova de que
pertencemos a ele (2.6) – Não basta conhecer seus mandamentos e
sua Palavra, precisamos também imitá-lo. Andar como ele andou. E como ele
andou? Em humildade, ele se esvaziou
a si mesmo; em total submissão ao
Pai, entregou-se a si mesmo; fazendo o
bem e curando os oprimidos pelo diabo; Ele andou em amor e perdoou até mesmo
os seus algozes.
William
Barclay afirma que: “O cristianismo é a religião que oferece o maior privilégio
e também a maior obrigação. ”
3. O amor -
a prova social (vs 7-11)
Movida
por um discurso contra a intolerância a heresia de que “todas as formas de amor
valem a pena” tem enganado a muitos. A Bíblia é clara quanto a essa questão, há
formas de amar que são veementemente condenadas e conduz à perdição: o amor ao
mundo e aos seus valores e discursos vazios de Deus (1 Jo 2.15), o amor ao
dinheiro que é a raiz de todos os males (1 Tm 6.10), amar mais a pai e mãe do
que a Deus (Mt 10.37), o amor aos prazeres e ao vinho (Pv 21.17), etc. Não nos
conformemos com o mundo, o amor, por ser a expressão viva de Deus em nós, tem
sido distorcido constantemente por aqueles que estão a serviço das trevas.
Em primeiro lugar o amor é um
mandamento velho e novo ao mesmo tempo (Vs 7,8). O
mandamento de amar ao próximo é antigo. Ele é da lei (Lv 19.18), faz parte do
Antigo Testamento. Entretanto, é um novo mandamento, porque Cristo o revestiu
de um significado mais rico e mais amplo (Jo
13. 34, 35).
Ao ler
dos versos 7 e 8 podemos pensar que João entra em contradição, mas na língua
grega há duas palavras para “novo”. A palavra neós é novo em termos de tempo e kainós é novo em termos de qualidade. A palavra usada por João é kainós. O mandamento de amar uns aos
outros não é novo em termos de tempo, mas em qualidade.
O
mandamento é novo em profundidade -
nos desafia a amar como Cristo amou, não com sentimentalismo, mas com ações.
Cristo deu sua vida por nós e devemos dar a nossa vida pelos irmãos (3.16). O
amor é sentimento e movimento, sentimento de compaixão e movimento em direção
ao necessitado. O amor e a fé têm em comum o fato de que ambos precisam de
obras para atestar sua autenticidade.
O
mandamento é novo em extensão - o próximo que devemos amar é qualquer
pessoa que precise da nossa compaixão. Compaixão é abrir o coração antes de
abrir as mãos. É abrir o bolso e não somente a boca. Devemos amar até os nossos
inimigos. O nosso amor deve incluir a todos sem acepção e abranger a todos sem
exceção. Incluindo todos como objeto do nosso amor enquanto pensamos em cada
pessoa individualmente. Esse é o modelo de Cristo.
O
mandamento é novo em experiência –
andar em amor e andar na luz são a mesma coisa. Quando conhecemos a Deus
tornamo-nos filhos da luz. Jesus é o Sol da Justiça. A vida cristã é viver em
Cristo, é permanecer nele. Por isso, a vida do justo “é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia
perfeito” Pv 4.18 Na luz vemos as pessoas pelo que são em sua necessidade.
Ao se dissiparem as trevas, a realidade do indivíduo fica exposta, e novamente
somos desafiados a praticar o amor. Para João, luz é igual a amor, e trevas
equivalem a ódio. A aurora já raiou em Jesus Cristo, e as trevas já vão se
dissipando.
Em segundo lugar o ódio não
sobrevive na luz (v.
9)
- Se no coração há ódio em lugar de amor, é trevas que habita esse coração. O
ódio ao irmão indica a falta do verdadeiro conhecimento de Deus, indica falta
de conversão, aponta para o estado de perdição daquele que odeia. Mas o que é esse ódio? É a falta de cuidado,
provisão e ajuda aos irmãos verdadeiramente necessitados (aqueles que amam mais
ao dinheiro e aos prazeres não olham para as necessidades dos irmãos). É a
indiferença aos relacionamentos. Não podemos estar em comunhão com Deus e ao
mesmo tempo com as relações quebradas com nossos irmãos. Não podemos cantar
hinos que falam do amor de Deus enquanto guardamos mágoas no coração. No amor
não existe penumbra ou meio termo. Examinemos nosso coração e não nos
enganemos.
Em terceiro lugar, o amor não
produz tropeço para si nem para os outros (v.10) – um
crente que guarda ódio no coração encontra em si mesmo tropeço para crescer
espiritualmente e serve de escândalo na comunidade em que vive. Em vez de
benção, transforma-se em maldição. O amor é
característica da luz e o ódio das trevas, portanto uma pessoa revela a
autenticidade de seu relacionamento com Deus através de seus relacionamentos
com os outros. Observe esses dois
exemplos: o exemplo de Caim, era um religioso, mas quis adorar a Deus sem
observar os preceitos divinos, sem examinar o próprio coração que estava cheio
de inveja e ódio do irmão Abel. Caim rejeitou a exortação de Deus, rejeitou a
luz e mergulhou nas trevas da inveja e do ódio e rua rebeldia o levou a
assassinar o seu irmão.
Contrastando
com o exemplo de Caim vemos o exemplo de
Judá, um dos doze filhos de Jacó. Na narrativa de Gênesis 44 e 45 José aplica um teste em seus irmãos e dá ordens
para que a sua taça de prata fosse colocada na bagagem de Benjamim. Ao serem
confrontados com o possível roubo e a decisão de que Benjamim deveria ficar no
Egito como escravo, Judá por amor ao seu pai já idoso e conhecendo o grande
amor de seu pai por seu irmão caçula, se oferece para ser escravo no lugar de
Benjamim (Gn 44.33, 34). Essa atitude de Judá, de se oferecer em lugar de seu
irmão, transformou um momento de acusação e tristeza num momento de reencontro
e de perdão. Judá ali foi um tipo de Cristo, que por amor ao Pai se entregou
por nós, estando nós escravizados pelo pecado, conquistou para nós o perdão e o
relacionamento com o nosso Pai celestial.
O amor pelos irmãos é a evidência de que fomos alcançados pelo amor
de Deus.
Amar os irmãos é o remédio para males como incerteza, angústia, insegurança,
bem como falta de ousadia e coragem diante de Deus na oração. Quando amamos em
ação e não somente por palavras, esse amor produz em nós uma consciência
tranquila diante de Deus e temos da Palavra a garantia de termos nossas orações
respondidas e de que permaneceremos em Deus.
Concluindo: O
apóstolo João em toda sua carta volta sempre a esses três assuntos: o amor, a
fé e a obediência. E biblicamente são inseparáveis, pois:
Fé e
amor sem obediência é sentimentalismo barato, fé romântica, e é
inútil, pois, a fé sem obras é morta (Tiago 2.26), e amor sem atitudes não traz
nenhum benefício.
Amor e
obediência sem fé produz atos motivados pela justiça própria,
buscando alcançar a salvação por méritos próprios e desagrada profundamente o
coração de Deus (Sem fé é impossível agradar a Deus – Hb 11.6)
Obediência
e fé sem amor é mentirosa pois a Bíblia afirma que Deus é
amor. (“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois
quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não
viu? 1 João 4:20). E de nada vale “Ainda
que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser
queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. 1 o 13.3” Além disso é esse tipo de vida que produz
o fanatismo e o extremismo que mata em nome de Deus.
Assim reconheceremos se somos
cristãos verdadeiros aplicando a nós mesmos o teste doutrinário (em que tenho
fé?), o teste moral (a quem obedeço?) e o teste social (a quem amo?).
Que possamos ter uma fé inabalável no nosso
Senhor Jesus Cristo, amá-lo acima de todas as coisas, pois é esse amor que nos
capacita a amar ao nosso próximo em ações e assim obedecer aos seus
mandamentos.
[i] Quanto
à etimologia da
palavra "moral", esta se
originou a partir do intento dos romanos traduzirem
a palavra grega êthica. êthica possuía, para os gregos,
dois sentidos complementares: o primeiro derivava de êthos e significava, numa palavra, a interioridade do ato
humano, ou seja, aquilo que gera uma ação genuinamente humana e que brota a
partir de dentro do sujeito moral, ou seja, êthos remete-nos para o âmago do agir, para a intenção. Por outro
lado, êthica significava
também éthos, remetendo-nos para
a questão dos hábitos, costumes, usos e regras, o que se materializa na
assimilação social dos valores.
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"O que ama a correção ama o conhecimento;"Pv 12:1a