Deuses Falsos

O sermão abaixo foi baseado em vários livros, entre eles: Deuses Falsos de Thimoty Keller 

Texto Bíblico: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. Mateus 22:36-38

Introdução

Vemos em nosso mundo o anseio humano por entender os enigmas e as charadas da vida, passados e presentes. Ansiamos por encontrar o sentido das coisas. Queremos ver o quadro completo, conhecer a história em sua totalidade. Mas, a despeito desse anseio grande parte da humanidade se encontra no limite da incoerência e da falta de sentido. Grandes e pequenos ponderam sobre o sentido e o propósito da vida. Blaise Pascal, filósofo francês, escreveu: “Quem me pôs aqui? Por ordem e decisão de quem esse lugar e esse tempo me foram destinados?”

Então, onde a humanidade pode encontrar o sentido e o propósito da vida?

Estudiosos concordam que para uma maneira de pensar seja considerada um “sentido da vida” ela precisa responder a quatro questões:

1. A questão da identidade: Quem sou eu?

2. A questão do valor: Eu importo?

3. A questão do propósito: Por que estou aqui?

4. A questão da ação: Posso fazer diferença?

Essas questões não podem ser respondidas pelas ciências naturais. A ciência nos fornece conhecimento e informação, mas é impotente para conferir sabedoria e sentido.

A fé cristã entra nesse cenário defendendo que há um novo modo de entendimento das coisas. A fé cristã se ocupa com a crença de que Deus existe e de que essa existência possui relevância para a identidade, a atividade e a ação humanas. Os cristãos sustentam que sua fé faz sentido em si mesma e dá sentido aos enigmas e mistérios da nossa experiência.

1. A questão da identidade –

A ciência reduziu a identidade individual à códigos genéticos impessoais.

Mas para o filósofo judeu Martin Buber a identidade é algo dado, e não alcançado. Para ele somos definidos por nossos relacionamentos sociais e pessoais.

Para a fé cristã encontramos nossa verdadeira identidade em nosso relacionamento com Deus, que nos conhece e nos dá identidade e relevância.

O ponto que realmente importa é: não definimos a nós mesmos, mas somos definidos pelo outro que atribui e salvaguarda nossa identidade e relevância. Nossa identidade não está em nós mesmos ela nos é dada e garantida por Deus.

A crise de sentido e de identidade em que grande parte da humanidade se encontra se dá pelo fato de terem perdido seu propósito de vida. Tudo o que Deus criou foi para cumprir Seu propósito e Sua vontade: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas. Apocalipse 4:11

Toda a criação, toda a humanidade inteira recebe identidade, sentido e propósito daquele que a criou: Cristo!

O propósito para o qual fomos criados, segundo a fé cristã baseada na Bíblia, é adorar a Deus e desfrutar de sua presença eternamente

Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou. Salmos 95:6

Adorai ao Senhor na beleza da santidade; tremei diante dele toda a terra. Salmos 96:9

E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. Isaías 6:3

Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céus dos céus, e as águas que estão sobre os céus. Salmos 148:3,4

Toda a criação louva ao Senhor que a criou, mas ao homem foi dado a exclusividade de se relacionar pessoalmente com o seu Criador. No princípio da criação, Adão e Eva podiam adorar a Deus face a face, o próprio Deus propiciou tudo para essa adoração. Na viração do dia, o Criador descia para passear com Adão e Eva no jardim do Éden, onde eles lhes prestavam alegremente reverência e adoração. Esse era o propósito do homem, adorar ao Senhor que o criou e desfrutar de sua presença.

Quando o homem escolheu desobedecer às palavras de seu Criador, dando ouvidos à serpente enganadora, a tragédia caiu sobre a humanidade fazendo-a perder seu propósito de vida, sua finalidade, seu sentido de viver. Adão e Eva se esqueceram de quem eram, não tinham conhecimento de onde estavam nem sabiam de onde tinham vindo e porque estavam ali. Até hoje esses questionamentos ecoam na mente de cada ser humano ainda não regenerado, fazendo a humanidade caída vagar perdida num deserto moral e espiritual.

Encontramos em cada ser humano um desejo insaciável de conhecer seu propósito de vida. Mas esse propósito está marcado em nossas almas, faz parte de nossa estrutura, fomos criados para adorar. E o ser humano se inclina a adorar, mas o problema é que a grande maioria acaba encontrando uma resposta errada e o coração do homem se tornou uma fábrica de ídolos.

Filho do homem, estes homens levantaram os seus ídolos nos seus corações, e o tropeço da sua maldade puseram diante da sua face; devo eu de alguma maneira ser interrogado por eles? Ezequiel 14:3

Por que perdeu seu propósito de vida original hoje o coração do homem toma coisas boas como uma carreira de sucesso, amor, bens materiais, e até a família, e faz delas seus bens últimos. Nosso coração as diviniza como se fossem o centro de nossa vida, porque achamos que podem nos dar significado e proteção, segurança e satisfação, se as alcançarmos. Qualquer coisa pode servir como um falso deus, especialmente as melhores coisas da vida.

O que é um ídolo? É qualquer coisa que seja mais importante que Deus para você, qualquer coisa que absorva seu coração e imaginação mais que Deus, qualquer coisa que só Deus pode dar.

Um falso deus é qualquer coisa que seja tão central e essencial em sua vida que, caso você a perca, achará difícil continuar vivendo.

Um ídolo tem uma posição de controle tão grande que faz com que você gaste com ele a maior parte de sua paixão e energia, seus recursos financeiros e emocionais, sem pensar duas vezes.

Em resumo: se alguma coisa se torna mais fundamental que Deus para sua felicidade, para o sentido de sua vida e sua identidade, você está diante de um ídolo.

O conceito bíblico de idolatria integra categorias intelectuais, psicológicas, sociais, culturais e espirituais.

Existem ídolos pessoais:

· Amor romântico

· Família

· Dinheiro

· Poder

· Sucesso

· Acesso a círculos sociais específicos

· Dependência emocional de outros em relação a si mesmo

· Saúde

· Boa forma

· Beleza física.

Existem ídolos culturais:

· Poder militar

· Progresso tecnológico

· Prosperidade econômica

· Nas sociedades tradicionais: família, trabalho duro, o dever, a virtude moral

· Nas sociedades ocidentais: liberdade individual, o autoconhecimento, a prosperidade pessoal e a satisfação.

Existem ídolos intelectuais:

· Ideologias que surgem a cada época: iluminismo, Marxismo, comunismo, democracia, etc

Existem ídolos no mundo dos negócios: o lucro.

Existem ídolos em todos os lugares. Todos eles prometem segurança, paz, felicidade, esperança e significado, coisas que só Deus pode nos dar. Os falsos deuses sempre desapontam, e muitas vezes o fazem de modo destrutivo.

Como nos relacionamos com os ídolos? Nós os amamos, confiamos neles e lhes obedecemos.

Deus deveria ser nosso verdadeiro Esposo, mas quando desejamos e nos deleitamos em outras coisas mais que em Deus, cometemos adultério espiritual: Porque, como o jovem se casa com a virgem, assim teus filhos se casarão contigo; e como o noivo se alegra da noiva, assim se alegrará de ti o teu Deus. Isaías 62:5

Mas confiaste na tua formosura, e te corrompeste por causa da tua fama, e prostituías-te a todo o que passava, para seres dele. Ezequiel 16:15

Deus deveria ser nosso verdadeiro Salvador, mas olhamos para nossas conquistas pessoais ou prosperidade financeira para que nos deem paz e segurança.

Onde, pois, estão os teus deuses, que fizeste para ti? Que se levantem, se te podem livrar no tempo da tua angústia; porque os teus deuses, ó Judá, são tão numerosos como as tuas cidades. Jeremias 2:28

Deus deveria ser nosso único Senhor e Mestre, mas quando servimos a qualquer coisa que amemos e confiemos fazemos disto um ídolo. Tudo o que nos controla é nosso senhor. A pessoa que busca poder é controlada pelo poder, a pessoa que busca aceitação é controlada pela pessoa que quer agradar. Não controlamos a nós mesmos. Somos controlados pelo senhor de nossa vida.

Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. Romanos 1:25,26 (o coração cai nas garras das vontades e dos desejos desordenados).

Quanto mais a humanidade ama, confia e obedece aos ídolos que ela mesma cria, mais ela é jogada num poço de desespero. O desespero é uma dor inconsolável e vem da perda da fonte última de sentido ou esperança da vida.

Qual a saída para longe do desespero e da escravidão dos ídolos?

É necessário discernir os ídolos de nosso coração e cultura. Mas isso não será suficiente. A única forma de nos libertarmos da influência destrutiva dos falsos deuses é nos voltarmos para o verdadeiro Deus, o Deus vivo, que se revelou tanto no Monte Sinai quanto na Cruz, o único Senhor que pode realmente satisfazer a todos nós, e se nós falharmos, ele será o único que poderá realmente nos perdoar.

Precisamos, portanto, identificar os nossos ídolos, mas não temos a capacidade para fazermos isso sozinhos. Não é por acaso que o primeiro mandamento começa com um mandamento contra a idolatria. Não quebramos os demais mandamentos sem quebrar o primeiro. Necessitamos da ajuda divina, tal como o salmista escreveu:

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno. Salmos 139:23,24

Peça ajuda de Cristo e olhe para a sua imaginação: o deus do seu coração é para onde seus pensamentos vão sem esforço quando não há nada mais exigindo sua atenção. No que você habitualmente pensa para se sentir alegre e confortável na privacidade de seu coração?

Como você gasta seu dinheiro? “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”. Mateus 6:21 – O padrão de nossos gastos revela nossos ídolos.

Como você responde, ou reage, a orações não correspondidas e a esperanças frustradas? (Ver o exemplo de Jonas).

Existe algo ou alguém além de Jesus Cristo que tenha tomado posse da preocupação, da lealdade, do serviço e do deleite do seu coração?

Para quem ou o quê você olha para encontrar estabilidade financeira, segurança e aceitação?

O que realmente te faria feliz? O que faria de você uma pessoa aceitável? Onde você procura poder e sucesso?

Perguntas assim trazem à tona estas verdades: se você serve a Deus ou aos ídolos, se procuramos salvação de Cristo ou a de nossos falsos salvadores.

Afastar-se dos ídolos requer arrependimento genuíno e júbilo, alegria e descanso no que Jesus fez por nós. Arrependimento e júbilo têm de acontecer ao mesmo tempo. Arrependimento sem júbilo irá levar ao desespero. Júbilo sem arrependimento é algo raso e só proporcionará uma inspiração passageira em vez de mudança profunda. Arrependimento baseado no medo nos faz odiar a nós mesmos. O arrependimento fundamentado no júbilo nos faz odiar o pecado.

Alegrar-se em Cristo é crucial porque os ídolos são quase sempre coisas boas. A alegria é a apreciação de um tesouro. Alegrar-se é uma forma de louvar a Deus.

Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Colossenses 3:1-3

Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos. Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor. Filipenses 4:4,5

A História de Lia

A Bíblia traz em sua narrativa vários exemplos de homens e mulheres idólatras e o curso de suas vidas baseados na escolha que tiveram. Escolho o exemplo de Lia.

A idolatria devastou o coração da Lia. A filha mais velha de Labão, a irmã feia da linda Raquel. Seu pai sabia que nenhum homem se interessaria por Lia e enganou a Jacó para se livrar desse problema. A filha que o pai não queria se tornou a esposa que o marido não queria.

Lia tinha um buraco no coração e começou a tentar preenche-lo. Ela colocou em seu coração a esperança de conseguir o amor do marido: Gênesis 29.31-35

Ela estava tentando encontrar felicidade e identidade através de valores tradicionais da família. Ter filhos era a forma, naquela época, de fazer isso. Mas não estava funcionando. Ela colocou sobre o marido todos os seus mais profundos desejos e esperanças. Se fizermos o mesmo que Lia esmagaremos nosso cônjuge sob o peso de expectativas divinas! Nenhuma pessoa, nem a melhor de todas, pode dar tudo aquilo de que a alma precisa.

Mas Lia fez uma importante descoberta quando deu à luz seu quarto filho: E concebeu outra vez e deu à luz um filho, dizendo: Desta vez louvarei ao Senhor. Por isso chamou-o Judá; e cessou de dar à luz.Gn 29.35

Ela finalmente havia desviado seus desejos mais profundos do marido e dos filhos e se voltado para o Senhor.

O filho que Lia deu à luz era Judá e em Gênesis 49 nos é dito que é por meio dele que o verdadeiro Rei, o Messias, viria um dia. Deus veio à garota que ninguém queria, a mal amada, e fez dela a mãe ancestral de Jesus. Quando Deus veio ao mundo em Jesus Cristo ele era verdadeiramente o filho de Lia: Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Isaías 53:2

Porque Deus se tornou o homem que ninguém queria? Por você e por mim:

Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaías 53:4,5

Esta é a força para superarmos nossa idolatria: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. Mateus 22:36-38