"A leitura faz ao homem completo; a conversa, ágil, e o escrever, preciso."
(Francis Bacon)
Concordo plenamente, por isso resolvi compartilhar aqui minhas leituras e algumas escritas baseadas naquilo que costumamente leio.
Sinta-se à vontade!

26 de ago. de 2015

Integralmente Submissos à Cristo

Divisa: E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Tessalonicenses 5:23

“A Convenção Batista Brasileira adotou para o ano de 2015 o tema: ‘Integralmente submissos a Cristo’ com a ênfase; ‘Desafiados a ser padrão de submissão a Cristo’. É um tema profundo que me levou a alguns questionamentos:

   1. O que significa ser integralmente submisso à Cristo? Entendo o que é essa integralidade do homem? 

   2. Entendo o que é submissão?

   3. Como me submeto integralmente à Cristo? O que é necessário fazer?

   4. Quais evidências demonstram que realmente me submeto integralmente à Cristo?


Primeiro, integralmente significa na totalidade, por inteiro, sem deixar nada de fora. A Bíblia afirma que o homem foi criado por Deus dotado de corpo, alma e espírito: 1 Tss 5:23; 1 Co 3:16 afirma que somos o templo do Espírito de Deus, o templo era composto de três divisões – Átrio, Lugar Santo e Santo dos Santos tipificando o homem e sua tríplice composição.

Ninguém questiona a existência do corpo e da alma (psique), mas há aqueles que negam a existência do espírito, ou não conseguem entender a separação que há entre alma e espírito, mas a Bíblia é clara quanto a esse assunto, veja Hebreus 4:12 “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. ” Compreender isso é muito importante porque só aqueles que tem o Espírito Santo em si mesmos é que podem compreender o que só pode ser compreendido de maneira espiritual. 1 Coríntios 2:12-16 nos fala de uma inteligência espiritual: “Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo. ”

Para melhor compreendermos veja o modelo dos 5 sentidos que o Pr José Bernardo elaborou:

  • No corpo temos os 5 sentidos físicos (ou capacidades) com os quais nos relacionamos com as coisas materiais, isto é, nos possibilita interagir com o mundo exterior: visão, olfato, audição, tato e paladar. 
  • Na alma temos os 5 sentidos psíquicos (relativo à alma, psique) com os quais nos relacionamos com as coisas abstratas, com o que é subjetivo: razão (inteligência), sentimento (percepção, sensibilidade), imaginação (representação de objetos, criatividade), consciência (subjetividade, autoconsciência) e memória (adquirir, armazenar e recuperar informações).
  • No Espírito temos os 5 sentidos espirituais com os quais o homem pode perceber e compreender as coisas espirituais: Fé, santidade, amor, temor e esperança.
    •  – Nos salva em Cristo, abre nossos olhos espirituais é o que nos mantém vivos espirituais: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; ” Efésios 2:8 e “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. ” Hebreus 11:1; “Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos.” 2 Coríntios 5:7
    • Santidade – Nos torna semelhantes à Cristo - Jo 17. 18-19: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo. Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade. ” 
    • Amor – Nos permite conhecer a Deus e relacionar com o próximo segundo a vontade de Deus: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. ” 1 João 4:8 – “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão. 1 João 4:20,21
    • Temor – Nos torna sábios, nos faz reverentes, é a vida em si: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” Provérbios 1:7 (Ser sábio é saber aplicar o que se conhece para o bem do próximo); “Portanto, já que estamos recebendo um Reino inabalável, sejamos agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor, pois o nosso "Deus é fogo consumidor! Hebreus 12:28,29; “O temor do Eterno é a vida em si; uma vida plena e serena — sem surpresas desagradáveis.” Pv 19.23 (Mensagem)
    • Esperança – Firmada na fé nos faz aguardar pacientemente a Volta do Senhor Jesus: “E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.” Romanos 5:5; “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.” 1 João 3:2,3
Ser, pois, integralmente submissos a Cristo significa submeter o corpo, a alma e o espírito, com todas as suas capacidades, à autoridade da Palavra de Deus, Cristo, o Verbo que se fez carne Jo 1.1.

Submeter-se de forma tão radical todo o nosso ser à autoridade de Cristo parece loucura aos olhos do mundo, pois o padrão de Cristo é elevado. O mundo não compreende porque as forças espirituais do mal nas regiões celestiais promovem o materialismo, a soberba, a vaidade e a sensualidade que embotam os sentidos espirituais: “Mas se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão perecendo é que está encoberto. O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” 2 Coríntios 4:3,4

Segundosubmissão bíblica é muito mais profundo do que a obediência. É uma atitude interior de confiança no Deus soberano, amoroso e onisciente. Nessa submissão há plena liberdade, pois nos submetemos àquele que tem todo o poder, tudo o que faz é bom e sabe de todas as coisas. (Salmos 139)

Cristo não se agrada de mera obediência, ele manda que sejamos obedientes e submissos, pois é possível obedecer sem ser submissos, os fariseus são o exemplo, obedeciam à letra da lei sem, no entanto, serem submissos ao espírito da lei, eles não confiavam no julgamento de Deus porque não compreendiam a lei do amor. 

A submissão é exclusiva à Cristo, sua autoridade deve ser exclusiva em nossas vidas. Está acima até mesmo do afeto natural de pais, mulher e filhos, Lucas 14.26,27. “E qualquer coisa menos que submissão com alegria é negação da autoridade suprema de Deus, negação de sua sabedoria, de seu amor e da morte do nosso próprio eu”. Em Atos 5.27-29, Pedro e João após serem libertos da prisão cumpriram a ordem de Cristo e continuaram a pregar o Evangelho, pois para eles importava antes obedecer a Deus do que aos homens. Desobedeceram às autoridades governamentais mas aceitaram-na em suas vidas. Isto é demonstrado pelo fato de Pedro e João não terem protestado por terem sido açoitados, e sim terem se regozijado ao sofrer por obedecer a Deus (Atos 5:40-42).

A submissão que Deus deseja é aquela na qual abrimos mão de qualquer condição para obediência e nos submetemos com alegria. Em Lucas 9.56-62 vemos exemplos de dois homens que manifestaram desejo de seguir à Cristo, mas colocaram condicionais, ao fazer isso negaram a autoridade de Cristo em suas vidas.

A submissão integral à Cristo é pura graça, não é algo que o homem possa fazer, é obra do próprio Deus. Em Mateus 11.28-30 Jesus nos diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. O jugo (submissão) é suave e o fardo é leve porque Jesus já suportou na cruz o sofrimento, e é a presença dEle em nós que suporta o peso desse jugo, caso contrário tal jugo nos esmagaria

Terceiro, nos submetemos integralmente à Cristo quando respondemos positiva e obedientemente ao seu chamado: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. Mateus 11:28 “Vocês estão cansados, enfastiados de religião? Venham a mim! Andem comigo e irão recuperar a vida. Vou ensiná-los a ter descanso verdadeiro”. Mt 11.28 (Mensagem)

É Cristo quem faz o chamado, o discípulo não pode chamar a si mesmo. E responder ao chamado de Cristo constitui um ato de obediência, que nos separa do mundo. É o primeiro passo que nos coloca submissos integralmente à Cristo, nos transforma em discípulos de Cristo. É um passo de fé, fé em ação. Bonhoeffer assim se expressa: “Só o obediente é que crê. É necessário prestar uma obediência a uma ordem concreta, para que possa haver fé. Tudo depende do primeiro passo. (..) Se crês, dá o primeiro passo; ele conduz a Cristo. Se não crês, dá-o igualmente, pois a ordem é essa! Nada se te pergunta acerca da sua fé ou de tua falta de fé; antes, o que te ordena é o fato de obediência e que o ponhas em prática imediatamente. Com isso, surge a situação em que a fé se torna possível e existe de fato.” Tal obediência, no entanto, não é mérito humano, novamente é graça concedida por Jesus, não é uma possibilidade para o homem, mas para Deus tudo é possível (Mt 19.26)

O chamado de Jesus Cristo é um convite, e não uma ordem, e segui-lo contém uma condicional: “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. ” Lucas 14:26,27

Observe que é Cristo quem determina as condições, duas condicionais: a primeira é que haja separação total de toda e qualquer relação direta com o mundo. Cristo será agora o Mediador, não somente entre Deus e o homem, mas também entre homem e mundo, entre o homem e outros seres humanos e coisas. É Cristo quem determinará como o homem deve se relacionar. Entre pai e filho, marido e mulher, entre indivíduo e o povo, entre indivíduo e coisas, ergue-se Cristo, o Mediador. Porque todo mundo foi criado através dele e para ele (Jo 1.3), ele é o único Mediador do mundo inteiro. O chamado à submissão, ao discipulado faz do discípulo um indivíduo, não mais pode ocultar-se atrás de pai e mãe, mulher e filhos, povo e história. “Cristo quer que o ser humano fique só, que nada mais enxergue senão aquele que o chamou. (...) Ele está entre mim e os outros. Separa, mas une também” (Bonhoeffer) Qualquer caminho imediato entre o homem e seu semelhante é cortado, porém ele aprende o novo e verdadeiro acesso ao semelhante, o Caminho é Cristo.

A segunda condicional à submissão integral é “tome sua cruz”. "Ela já está preparada desde o início, falta apenas leva-la. Ninguém precisa sair em busca de sua própria cruz, ou procurar voluntariamente o sofrimento, Jesus diz que uma cruz já está preparada para cada um de nós. Cada qual tem que suportar a medida de sofrimento e rejeição que lhe é reservada." O primeiro sofrimento com Cristo é o chamado para fora das vinculações com o mundo, é a morte do velho ser humano. Há outro sofrimento ao qual ninguém escapa: o fardo dos outros. Cristo sofreu pelo pecado do mundo, caiu sobre Ele todo o fardo da culpa, e Jesus deu aos seus discípulos parte no fruto de sofrimento: “Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria.” 1 Pedro 4:12,13 Assim, o cristão toma sobre si os pecados e a culpa de outros seres humanos. Estaria o discípulo aniquilado sob tal peso se não estivesse sendo próprio sustentado por aquele que tomou sobre si todos os pecados. O cristão suporta os pecados que caem sobre ele no momento em que os perdoa, na força da Paixão de Cristo. “Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo.” Gálatas 6:2 Os fardos que o cristão deve levar não é apenas a situação, a maneira de ser, o temperamento do outro, mas também seus pecados. Não podemos leva-los de outra forma a não ser perdoando-os no poder da cruz de Cristo, cruz da qual nos tornamos participantes. “O perdão dos pecados é o sofrimento de Cristo ordenado ao discípulo, imposto a todos os cristãos. ”

Quarto, algumas das evidências que demonstram que realmente o cristão é submisso integralmente à Cristo são:

   1. A autoridade de Cristo é suprema em sua vida, está acima de tudo e todos e até de si mesmo. Atos 5.29 O cristão integralmente submisso está disposto a sofrer se for necessário por causa de seu amor e submissão à Cristo e suporta o sofrimento com alegria.

   2. É submisso às autoridades delegadas, pois a Bíblia afirma que Cristo hoje reina por meio delas. Toda autoridade vem de Deus (Rm 13.1-5) e ele dá autoridade a quem lhe aprouver (Ef 4.11,12), nossa atitude para com aqueles aos quais ele confia a autoridade reflete nossa verdadeira atitude para com Deus.

   3. Recebe autoridade por meio da submissão. A autoridade exercida por alguém é determinada pela autoridade à qual essa pessoa se submete. Se a pessoa não for submissa não tem o direito de exercer a autoridade.

   4. O cristão integralmente submisso à Cristo exerce sua autoridade servindo. Em Marcos 10.42-45 Jesus disse: “Jesus os chamou e disse: "Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos". Marcos 10:42-45 

A mensagem de Cristo é clara: o amor espiritual serve, e não deseja ser servido. O amor de Cristo a seus discípulos foi serviço altruísta. Ele assumiu, por vontade própria, a forma de escravo (Fp 2.7), lavou-lhes os pés e voluntariamente tomou o lugar deles na cruz.

Em João 13.15 Jesus reforça: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. ”

Para o discípulo de Jesus integralmente submisso, culto e serviço ao irmão não podem estar separados. 

O serviço ao outro também se processa na vida do crente submisso mediante a graça de Deus. Porque o Filho de Deus encarnado veio e nos deu o exemplo, demonstrando amor em forma de serviço altruísta, assim, estando nós sustentados por Ele que venceu na cruz, temos, por meio da ação de Cristo em nossa vida, a condição de fazer o mesmo. Serviço integral: servir o próximo em suas necessidades de corpo, alma e espírito.

Que nós continuamente examinemos as Escrituras e nos coloquemos à prova para que cresçamos à estatura de Cristo para então sermos padrão de submissão de Cristo.



Bibliografia

A formação de um discípulo – Keith Philips
Discipulado – Dietrich Bonhoeffer
Bíblia A Mensagem – Eugene Peterson
Bíblia NVI

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